Quando se invertem os papéis tudo se complica.
Fomos educados a respeitar os mais velhos, a não lhes levantar a voz, a não os interromper com um toque no braço quando falam, porque o assunto é desinteressante, ou quiçá na sua óptica inoportuno, não lhes passávamos atestados de estupidez, apesar de na sua maioria, os mais velhos, serem analfabeta e nós os mais privilegiados já um pouco diferenciados.
Nem se tinha a coragem de os tratar por tu... era o Senhor ou a Senhora...
O 25 Abril não abriu portas... escancarou as barreiras do correto, eram só facilidades para não se ser "fascista"...
E a geração que desabrochava nesses anos setenta tornou-se cobardemente permissiva para os seus descendentes.
Não se diziam aos pais: "Não preciso de ti para nada!"
Porque dos pais precisamos sempre!
Podemos ser independentes como pessoas, financeiramente constituir a nossa própria família, mas dos pais precisamos sempre...
Os pais são os pais.
Têm seguramente mil defeitos, mas também têm qualidades, e são eles que nos dão tudo desde que nascemos... E se mais não dão é porque não sabem ou não têm.
E este "dar" não é o lado monetário em questão, é o amor, é a disponibilidade, é o colo, é o porto de abrigo, isso só os pais têm para dar.
E não há lágrimas, nem arrependimentos que colmatem as nossas falhas perante eles no dia que os vemos partir.
Sei tão bem do que falo...
Fica o remorso, a impotência, perante o que não se fez e poderia ter sido feito, perante o que se magoou sem qualquer necessidade, perante o silêncio do desprezo, quando um simples"olá" lhes aconchegaria o seu dia.
Os tempos mudaram, e foi tão rápido...
E como num piscar e olhos tentamos enxergar ao redor e apenas se constata que os papéis se inverteram.
E é sinal que estamos a ficar tão velhos como os velhos da nossa juventude, mas menos respeitados que outrora.
Sem comentários:
Enviar um comentário